Sobre mim
Inês Fonseca, 45 anos, nascida num dia quente de Verão no Porto.
Esta sou eu.
Mentira, sou muito mais do que isso, mas dou-vos apenas a versão simplificada. O resto vão descobrindo, senão qual é a piada?
Misturo a vida com músicas e as músicas com a vida (e tem resultado), não obstante por vezes me perder em e entre ambas.
Músicas com ritmos e sons iguais ou distintos mas, na realidade, nem é muito relevante, porque todas elas estão carregadas de sentimentos e emoções.
Tanto que dou comigo a pensar que a música x ou y, lá foi viver a sua vida…
Tenho músicas de estudante, de trabalho, de casamento, de maternidade, de divórcio, de desemprego, de alegrias e tristezas, enfim…E, tenham a certeza que para este momento concreto, também tenho uma música que sem dúvida se vai emancipando de mim.
Agora perguntem…e a dança? Isso é outra história. Claro que sempre dancei ao ritmo da música que ouvi (cheguei mesmo a fugir de casa várias vezes para dançar), porque quem não dança ao ritmo do que ouve, não vive ao ritmo do que sente.
Desde que a lei me deixou, que me lembro de trabalhar, fiz de tudo um pouco, e tudo me serviu para alguma coisa, mesmo que só mais tarde o descobrisse.
Nos últimos 19 anos trabalhei como Delegada de Informação Médica, onde me encontrei profissionalmente e também me perdi. E, literalmente, bati com a cabeça.
Com este último emprego, passei por um, não …diria mesmo por vários, processos de crescimento, alguns envolveram raiva, outros fúria, sentimentos de incapacidade, mas o último sentimento que dali retirei foi mesmo de libertação.
“Bom dia Drª- rir incansavelmente, estar sempre imaculadamente vestida, levar a mala das amostras…”
Foi bom enquanto durou. Agora o meu bom dia genuinamente risonho é ao mundo, e a todas as possibilidade que ele me dá. Quanto às amostras, acho que ainda tenho para lá algumas, não vá ser preciso.
Agora pararam de ler e perguntam.. mas o que é que me interessa a história desta tipa? O que é que isto tem de diferente dos outros blogs?
Pois, depende.
Depende de quem vai continuar a ler ou não.
Depende de quem já passou direta ou indiretamente por isto.
Mas, acima de tudo depende do grau de humanidade de cada um face ao próximo.
Assim, se chegaste até aqui e não paraste de ler, desde já o meu obrigada.
Então foi assim:
Há 4 anos devido a um acidente de trabalho, tive um Traumatismo Crânio Encefálico ligeiro – TCE. A primeira vez que ouvi a expressão não me pareceram 3 letras nada assustadoras, uma sigla insignificante.
Mas, na realidade, a partir desse instante estas 3 letras passaram a ter um peso enorme na minha vida. Ao fim de 4 anos descobri mais de mim e destas 3 letras do que algum dia imaginaria.
Fui sempre acompanhada e apoiada por uma equipa Multidisciplinar, desde Neurocirurgia, Clinica Geral e Psicologia Clinica.
Este trabalho de equipa, conjuntamente com família e amigos, foi tão unido que foi fundamental no processo de reabilitação.
A Organização Mundial de Saúde chama-nos de ” doentes silenciosos” e rapidamente percebi porquê. A minha vida ficou um caos e a minha saúde psicológica desmoronou….
Durante quase 2 anos deixei de dançar porque deixei de ouvir a música.
Reencontrei-me com a ajuda de acompanhamento especializado de.. Psicologia Clínica.
Ao fim de 4 anos e de muitos desafios, é neste caminho que acredito.
Acredito pelo impacto positivo que teve na minha vida….acredito pelo impacto positivo que está a ter na vida de outras pessoas, que tal como eu, nada se vê….mas tudo se sente !
Deixo-vos para já 7 grandes verdades das tantas coisas que aprendi com o TCE e que mais tarde irei explorar:
– Por melhor aspecto que possa ter, vão existir sempre pessoas que acham que tudo é simulação
– Vão existir sempre pessoas que vão duvidar
– Aprendi que o invisível aos olhos é das coisas mais difíceis de se mostrar e de se provar
– Aprendi que apesar das minhas limitações, nunca devo baixar os braços e devo pelo menos tentar
– Aprendi que muitas vezes os sintomas anos seguidos são como a sirene do Titanic a avisarem que tens de mudar o caminho
– Aprendi que não sou nenhuma coitadinha e a minha verdade é a minha verdade, não a dos outros
– Aprendi que o que julgava que se ia resolver rápido, passou a ser uma jornada.
As minhas limitações não visíveis vão acompanhar-me a vida toda e para aceitar isto escolhi o melhor caminho – a Psicologia.
E, de tudo isto, de acérrimos apoios até aos maiores fatores dissuasores (sim também existem) nasceu um projeto, ao que chamei de Movimentos e Olhares – nunca te percas de ti.
Nasce de mim e de ti, de mim para ti, e de ti para mim, nasceu para nós que direta ou indiretamente lidaram e lidam com TCE ligeiro.
Nasce através de todas as pessoas que se têm cruzado na minha vida e que me levaram a perceber que afinal, somos todos tão diferentes e ao mesmo tempo todos tão iguais. Nasce também para ti que não tiveste um TCE, mas sofreste uma alteração brusca pessoal/social e te perdeste.
Nasce com uma vontade enorme de partilhar a minha música com vocês e através dela trabalharmos todos em conjunto rumo a uma reabilitação que é possível.
Nasce porque todos devemos saber ouvir e dançar música, reconhecer os ritmos e sinais, saber que há ritmos mais e menos intensos, danças mais e menos ritmadas, os de cada um e os de todos, mas que neste projeto eu quero que a partilha seja nossa.
Só é bom para um se for bom para todos e é nisto que acredito.