TCE – de mim para ti…
Olá,
hoje decidi escrever-te. Sim a ti que tiveste um TCE e te sentes perdido.
A ti que cuidas de alguém que teve um TCE e não entendes tantas coisas…
Para ti …por tudo que tentas ultrapassar.
Antes demais eu sou a Inês….que também teve um TCE e que conhece bem as dores, as angustias, a frustração…….enfim….daquilo que sabemos que éramos e não somos mais….
Durante os 8 meses que estive de baixa a frase que mais ouvi do meu medico foi – “Inês, perceba que a Inês antes do acidente não é a Inês de depois do acidente” – e sempre que ouvia esta frase literalmente pensava “pois pois…..treta…”…e pensei assim vezes sem conta, até porque durante toda a minha vida, sempre que ouvia , não consegues…não vais…não, não, não……tinha literalmente o caminho aberto para dizer “ Ah não??? Então vamos ver” ..e portanto desta vez pensei exactamente o mesmo e não liguei muito.
Pois é….., mas o tempo começou a passar….os picos de irritabilidade a virem não sei de onde, o não conseguir ler nada, não fixava nada que me diziam, ver filmes nem pensar…e dormir dependia !!! Comecei sinceramente a ficar bastante zangada com a vida e a questionar-me o porquê disto…e andei nesta roda de perguntas ainda algum tempo…acima de tudo não estava a aceitar nada de nada, fosse do que fosse. Embora a família estivesse avisada dos possíveis comportamentos fora do comum optei a dada altura por não falar e lembro-me que passei ainda alguns meses completamente comigo. .. simplesmente porque não me apetecia falar e chorar ao pé de alguém era impensável. Olha eu a chorar ou a pedir ajuda!!! Nunca na vida!!! Sempre me safei sozinha ….. com o tempo fui percebendo que desta vez não ia lá sozinha…aliás, sozinha não ia a lado nenhum. Obriguei-me a sair, a estar com outras pessoas, a namorar, a tratar do meu filho…… não foi tarefa fácil mas queria dizer-te que é possível. E queria pedir te para pedires ajuda…acredita que vais ficar surpreendido com o resultado!
Quem olha para nós diz que estamos com óptimo aspecto (pelo menos assim o ouço), mas não é à toa que o meu médico nos chamou algures no tempo de “ doentes silenciosos”.
Esta designação ficou-me na cabeça e com o tempo comecei a perceber perfeitamente porquê….somos de facto “ doentes silenciosos”, mas isso não significa que temos de ficar parados no tempo, frustrados ou com pena de nós próprios. Isso não!!! Eu sei que cada um tem a sua forma de sentir e viver as coisas…mas no fundo somos todos tão iguais!!! E por sermos todos tão iguais queria dizer te o seguinte:
A dor precisa de ser sentida, por isso, agora é o teu momento. Sente-o e não deixes nada por sentir, nem um fio, nem uma ponta solta! Apenas sente.
“E depois?”, deves estar a perguntar…
Depois, é hora de regressar a casa e reaprender a fazer uma coisa que nós seres humanos temos imenso jeito para fazer: viver…..e com certeza que saberás fazê-lo melhor do que fazias antes.
P.S. Estão ( acredita) muitas pessoas com saudades ( muitas) tuas
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